sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

ASSASSINÓS


Se me ensina a proximidade
e chega
Se me ensina a substância
e toca
Se me ensina a lentidão
e demora
Se me ensina a solidez
e segura

Se me ensina
Assina
e assim me assassina
De mim pra ti
e sendo sina em vista
Que eu assine em você meu olhar
e te assassine
De ti pra mim

Cada ser
Antes só em si
Assassinós

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

SERPENTE

Eu não sou uma flecha
Reta e tensionada
Que mira uma maçã católica
Eu sou a serpente sinuosa
E poeta
Que delineia, ao tracejar
caótica
As pragas endêmicas do Éden
E troca de pele e pede e repele
E troca de pele e peca e repete
Se tranca na toca
E não sai por menos
Que o ovo do novo
Verseja venenos
E engole bois inteiros só de aperitivo

Sou a serpente que persegue a serpente que sou
Sou perseguido pela serpente que só persegue a si

CHOICES


Choices
De chaves
De chances
De chá de futuro
Dichavo
Futuro
Futuco
Futuro
Do chão de desfrute
Dá fruto
Futuro

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

VIAGEM


Essa viagem é ir ou voltar?
Se é que há volta
Sem revolta
Da memória do lugar
Para o qual se retorna
Se é que há retorno
Sem tornado
Nem transtorno
Na memória do lugar
Se é que há memória
Sem viagem
Na mente
Para o lugar em que se foi
E de que se foi
Dentro de nós
Se é que há lugar
Sem memória
Nem viagem
Sem mentira 
Nem verdade

Se é
Que haja
Viaje

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

EUFERENDA


Futuro,
Por favor, não se ofenda
Com meu medo de você
Com minha ansiedade
Ou meu pessimismo ingrato
Sou
Euferenda
O sujeito que oferece
E o corpo oferecido
Pra cair na sua renda
Sua trama por fazer
Por favor, entenda
Pois eu já entendi
Que eu não entendo de você
Só ofereço
Eufereço
Sou
Euferenda
Futuro,
Não se esconda
Que eu, quem, não me escondo
Que o seu quando seja onda
Aonde eu me faça qual
Euferenda
Sou
Eufereço,
Futuro...


TEMPO, TRÂMITE, TRAMA


Passado é montanha
Futuro é abismo
Presente é precipício
Que sensasou estranha

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

JOGOS DE ESTÁTUA


Como você mudou
E continua o mesmo?
Eu te pergunto
Te encaro
Olho nos seus olhos
Seus novos óculos
E fico perplexo
Me vejo no reflexo:
Quem mudou fui eu
E assim como do carro
A árvore corre
Mesmo que parada
Na mesma coordenada
Em que deitei meus olhos
Te vejo de relance
Diferente
E ainda o mesmo
Relativo
Mas não mais me relaciono
Com seus jogos de estátua
Te deixo apenas o pensamento
Que me prensa
Apreensão
E o meu número de contato
Uma possível ligação
Em ocasião de emergência


quinta-feira, 22 de novembro de 2018

OROBORANSIOSO


Oroboransioso
Eu fujo
Eu caço
Sou eu quem me devora
Em finito
A parte é o todo
E ninguém me perguntou
Se eu queria fazer pacto 
Pra ser parte do contrato
Da existência
De consciência
Ou pós ciência
Nada disso faz sentido
Ou aponta um sentido
Só um
Em círculos
Procurando, eu, o que promete
Sou meu pássaro e Prometeu
Nada disso me agrada
E minha fome me degrada
E o sabor não é gostoso
Oroboransioso

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

CABEÇA CHEIA, OFICINA DE VIADO


Chifre de diabo
Chifre de viado
Anticoroa y
Antena
Mente sempre cheia
Oficina
Casa
Cabeça
Meu casulo
Minha anticaverna
Aberta vinte quatro horas
Pois, logo, é
E se não cresce pra fora
Ou cresce pra dentro
Ou atrofia
Então fia & desfia
Ideia
Verso ou
Fantasia

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

HORIZONTAL

 Minha disposição para a sozinhez é cada vez menor. Minhas nuvens, que cobriam o espaço em uma névoa, tornando a observação um processo fantasioso e suficiente, andam rarefeitas e, também, indispostas.
 Por outro lado, a agudez dos meus carentismos é progressivamente mais branda, como uma criança que encontrou no tempo o melhor remédio para uma rinite, asma ou alergia de estimação.
 Assim, comprar indiscriminadamente pacotes de figurinhas novas parece, à cada dia, mais imprudente, tal qual entregar o peso do corpo em lãs de laços frouxos (seja pela saturação, seja por terem sido atados desse modo desde o início)
 No fim das contas, agora, é preciso estar. Agora. Sem nuvens. No lugar, no horário e neste saco, molhado e frágil, de carne e osso.
 É preciso arrumar as caixas e pegar no volante. É preciso, ativamente, guardar as coisas nas caixas e dirigir. E esperar. E dirigir. E esperar. E dirigir...
No único sentido possível pelas leis universais desse caminho de mão única. O do horizonte.

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

CICLO URBANO DO VENTO


Eu quero evaporar
Virar vento invisível
Atravessar pequenas frestas
Secar as fardas no varal
Soprar árvores e bandeiras
Refrescar um corpo debruçado na janela

CICLO URBANO DA ÁGUA


Eu quero derreter
Escorrer pelo ralo
Correr nas vias do esgoto
Ser outro na estação de tratamento
Trafegar no encanamento
Molhar um corpo em um banho quente

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

SINSÓNIA


Meu pensamento
Turbilhão de vento
Se perde em labirinto
Veloz irrefreável
Nos ocos do que sinto

O meu corpo
Cheio de vazios
Em meio ao vendaval
Sopra feito flauta
Por entre minhas faltas
Um manifesto

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

REVOLUÇÃO ESTRANHA


Não me meça com a sua régua
com as suas regras
com as suas rédeas

Não encaixa
Na sua caixa
O meu desejo
Eu quero estar inteiro
Sem ajuste nem reforma
transbordo onde transforma

Não me podo
Implodo
Quero meu corpo todo
Revolução estranha
Tríade ética, estética, prática
Dinamizar estáticas

Vetor eutropocêntrico
Valor outropocêntrico
Vamos nósproutroscentros

Comendo da margem
Pra dentro

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

FORTALEZA


Eu sou fortaleza
E eu
Dentro de mim
Sou rei
E prisioneiro
Um corpo inteiro
Concreto, carne e fantasia

Fora dos muros
Só há o que vejo
Dentro dos muros
Angústia e desejo
E uma princesa adormecida
E uma fera amordaçada

Vejo horizontes inexploráveis
Terras distantes que aterrorizam
Alguns calabouços seguem calados
E certos tesouros
Sem mapa feito

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

INDIAZIRILHAS


se eu deriva
de contorno incerto
quero indiazirilhas
noutras fronteiras
cordilheiras
diz-a-perto

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

FIXIA

entre
sinritmia
e
discronia
se faz
entre
alogia
e
pantopia
se faz
entre
anticracia

prefonia
se faz
entre
anti
e
a
e
sim

tele
e
em
patia
se
sufixia
e
asfixia
prefixia
e
desasfixia
se
a
vi
da

MONOPÓLIO

EU SEMPRE PERCO
EU JOGO O DADO
EU PEÇO SEIS
EU TIRO UM
EU ANDO DOZE
E EU SEMPRE PERCO

EU NÃO SOU DONO DE NADA
EU NEGOCIO PROPRIEDADES SEM A MÍNIMA PROPRIEDADE
EU CAIO NO LUGAR ERRADO E EU SEMPRE PAGO
E EU SEMPRE PERCO

É MINHA JOGADA
EU TIRO SORTE
A SORTE ME TIRA
A SORTE ME TIRA DA JOGADA
A SORTE TIRA O OUTRO ALGUÉM DA JOGADA
A SORTE SEMPRE TIRA UMA ONDA FUDIDA COM A MINHA CARA
E EU SEMPRE PERCO

EU NÃO TENHO UM GRUPO DE PROPRIEDADES

AS PESSOAS SEMPRE ME PAGAM MUITO POUCO QUANDO CAEM NAS MINHAS PROPRIEDADES
EU SEMPRE PAGO MUITO QUANDO CAIO NAS PROPRIEDADES DAS PESSOAS
EU NUNCA CONSIGO CONSTRUIR NADA NAS MINHAS PROPRIEDADES E EU SEMPRE PERCO

EU JOGO O DADO
E REPITO
EU JOGO O DADO
E REPITO
EU JOGO O DADO 
E REPITO
EU JOGO O DADO
E EU SEMPRE PERCO

EU PASSO PELO PONTO DE PARTIDA
EU NÃO RECEBO CONTRAPARTIDA
E EU VOU DIRETO PARA CADEIA
A CADEIA É TÃO BARULHENTA DE ECO
A CADEIA É TÃO BONITA DE FEIA
A CADEIA É TÃO VAZIA DE GENTE
A CADEIA É MINHA PRÓPRIA MENTE?
LOVE IS A LOSING GAME
E
EU
SEMPRE
PERCO

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

CAIXA DO PEITO


Caixa de som
Caixa do peito
Encaixe perfeito
Enlace e leito
De deitar sua escuta
Casulo uterino
Menino
Conforta e transmuta
Conto e encontro
Arte e luta

Caixa correio
Não sei porque veio 
Mensagem cantada
E embaralhada
Não sei onde vai
Não coube nas caixas
Das cartas antigas
A carta-cantiga
Caminho ou chegada?

sexta-feira, 22 de junho de 2018

TEMPO


O tempo é trança que não afrouxa
O tempo é traste
E é triste o trouxa
Que faz troça desse troço estranho
Tal troço tamanho
Que não dá troco
Que é só troca
Constrói mas também destroça
Tranquilo ou tempestuoso
O tempo dita
Maldito ou ditoso
Na inconsistência e no contentamento
O tempo é um tiro lento
O tempo é tartaruga turbo
O tempo, direito ou torto
De trazer e trair o tudo
Se atraso ou se adianto
Manto tridimensional
Se for coberta é acalanto
Se me acoberta
Aperto e espanto
Mas de toda sorte
(E de toda morte)
O tempo é o tapete
O tempo é o trem
O tempo é a trilha.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

RIO


Eu quero o tempo de um rio comprido
E o seu barulho alto e tranquilo
Sua transparência
Água intensa e calma

Eu quero a paisagem de um rio extenso
Insinua imenso, mas nunca se esconde
Profundo e sinuoso, um rio cristal de banho
Eu quero um rio tamanho de diluir venenos

Eu não quero por menos do que movimento
O rio encontro, o rio confronto: sábia                                  [confluência
A ciência ancestral de um barco-rio serpente
Correndo o rio de virar mar no lar da                              [transcendência

segunda-feira, 28 de maio de 2018

ROSAS ROMÂNTICAS, ANTÚRIOS ESTRANHOS


 Eu plantei um jardim ao redor das minhas ausências. Rosas românticas e antúrios estranhos contornando os meus vazios como uma moldura rubra. Uma fronteira viva, que começou como desculpa para segurança, mas perdura como um monumento para o meu sofrimento. Caminho ao redor do poço regularmente, um hábito recorrente que já se tornou automático. Um vício do espírito.
 O choro vermelho das minhas pernas, o trauma aberto dos espinhos das flores, não pode mais ser separado da coloração das plantas. Atualmente ele as rega. Encharca. Paixão, Raiva e Luxo em um pigmento vibrante, exótico e inexorável.
 Vez em quando, em um cultivo de ódio e adoração, eu recito coisas bonitas, berro lamentos desesperados e brinco de mal me quer ao redor do buraco. Ouço o eco que ricocheteia em suas paredes, um acalanto no volume da autoimportância, um ode no timbre da solidão.

segunda-feira, 30 de abril de 2018

TEMPLO


O meu corpo é um templo
O seu corpo é monumento
Meu no seu, um manifesto
Seu no meu, adoração

quarta-feira, 25 de abril de 2018

CARPE DÍVIDA


Cruzes, raízes, correntes
Livros de história pesados
Genes, desgostos herdados
Museus, mausoléus, sobrenomes

Olhos dos retratos nas paredes
Olhos dos fantasmas nos retratos
Tradições fantasmas nos contratos
As_sombras, terras e jóias

O peso do passado caindo acelerado no vácuo do futuro é a tortura do presente, o momento inconsistente, pequenino e esmagado.

domingo, 1 de abril de 2018

A ALQUIMIA DO CHEIRO DOS MENINOS


Um cheiro veste bem uma roupa
Uma roupa veste uma pessoa, que tem um cheiro
A roupa, desvestida da pessoa que vestia
Veste ainda um cheiro

O aroma de algo vem sempre escondido em uma
bandeja de prata
Começa em interrogação e termina em memória
Inconsciente e volátil

O perfume de uma pessoa é uma mistura de  colônias, contextos, itens de higiene, hormônios e átomos de carbono
Inicia no labirinto e finda no aprendizado,  não na escapatória

Dois corpos desvestidos
Que não estão vestindo calças e não deveriam vestir vestidos
Vestem um ao outro
E no jogo de vestir a si mesmos
Vestem vozes, vazios e cheiros

Atmosfera que não é sua
Ferormônios que não são meus
Nosso. De não guardar no bolso
Na química da experiência
A alquimia do cheiro dos meninos




domingo, 25 de março de 2018

PEGA VARETAS


O rosto molhado e a cara vermelha.
A minha cara inchada,
A minha cara manchada,
Manchas de espinha e água.
Limpar os olhos de mágoa:
É questão de lente ou paisagem?

Me espeta com os espetos do meu pega varetas
De esferas de cristal.
Cristal lindo do meu choro mais molhado
Desequilíbrio em minhas espinhas,
Os meus olhos caem no lago
Mais profundo
E abissal. 

domingo, 7 de janeiro de 2018

ROSAS ANTENAS


Rosas farpadas
Isolam/
/protegem

Antenas alertas
Transmitem/
/recebem

Do alto da torre
(ao redor uma cerca viva)
Meus jardins e
Meus sistemas,
Minhas feridas e
Rosas antenas

Luneta em telacéu
Girassóis eclipsados
Coquetéis de anestesia
Pular corda com laços de enguia e 
Nas vias retratos e cacos.