segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

LIXO


Piso o pé no pedal do lixo
Como quem abre a geladeira
Sem saber o que quer dali
Depois de andar decidido a sala inteira
Como quem procura os óculos no quarto
Pra achá-los bem em cima da cabeça
Como quem bate a porta de casa
Sem celular, nem chave, nem carteira.

Eu e o lixo
Meu olho no olho dele
Fixo
E o pé no pedal do lixo
Sem propósito e vazio:
Então é isso!

Dou um salto em cima do lixo
E como um mutante elástico
Me encolho em um tamanho ínfimo
Pra com a tampa fechada
Tirar um cochilo acolchoado
Em lençóis de saco plástico.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

BRINCAR DE SER


Por que brincar de ser mulher
Quando eu posso ser uma onça, uma pedra, um peixe?
Um feixe de luz que atravessa a janela
Ou uma bela donzela inglesa do século passado
E até um viking viado navegando o Canal do Panamá?

Por que brincar de ser homem
Quando qualquer meia luz de lua cheia
Que cai por cima de mim
Me transforma em lobisomem drag queen?
E se não visto nenhuma fantasia
Só me resta a nudez escancarada
peluda e pelada?

Quem eu sou não sei quem fez
Quem vou ser não tem quem brinque
Vou fantasiar toda a minha nudez
Pra poder tomar uns drinks 
Em uma exposição censurada.