quarta-feira, 30 de agosto de 2017

OCASO


Unhas compridas arranham a carne macia
Cores vermelhas arrancam a tarde vazia
Arrancam a tarde do dia

Se por do sol do sofá da sala
Me por eu só no teu seio céu
Enrubescer
Tenro como um som de Rubel
Ao meu bel-prazer

Diluir no oceano laranja
O meu amar solar
Sem lar
Alojado bem firme em você

Um caso, acaso, ocaso.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

BICHO


O bicho, na ponta da caneta, sangra
O bicho-eu que não fala e que nem anda
O bicho-monstro que samba
Na minha cabeça
Corda bamba
Com seu salto alto afiado
O bicho-feio, firme, forte e armado
Sabe de cor e salteado
Recitar o meu silêncio
O bicho que não marca calendário
E nem vem de horário
Marcado
Só marca a mente
Agita o peito
E feito Midas às avessas
Tudo que toca é defeito
O bicho que não move
O bicho que não vive
O bicho que não ama
O bicho, na ponta da caneta, sangra.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

SETE SÉTIMOS


Sete sétimos de mim
Querem você
Cê tem noção do que isso significa?
Se tento tanto, acabo em prantos
E no final a conta toda se complica
Nessa fração, eu me desmancho
Parte em parte, partiu o meu querer
Mas oito oitavos
E nove novos
De mim
Querem
Um
Inteiro
De
Você.

domingo, 20 de agosto de 2017

GOSTAR NUM SUSSURRO


No meio da praça uma estrela
Por cima de ti minha perna
A torre da igreja observa
Entre eu e você uma fresta
Por onde o vento frio atravessa

Pra gostar num sussurro
E se tiver um susto
Eu saio no murro
Levanto e corro
Ou brado um urro pedindo socorro

Do homem dos dentes de prata
Espero da língua uma faca
-Revejo na mente os meus planos
Reconto nos dedos os meus anos-
E a mão trás das costas disfarça
E de supetão ele saca

Segura sem jeito uma lata
Na ânsia duma nota ingrata

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

RISO OU CHORO


O seu rosto parece o começo do barulho de um bebê
E eu não sei dizer se é riso ou choro
Eu não sei dizer se eu fico ou corro
Eu não sei dizer se eu vivo ou morro

Eu só sei falar de todas as coisas que eu não sei dizer
Até poder gritar tão alto 
Até poder calar o peito

E eu não sei dizer se é defeito ou se é perfeito
Se só vou descobrir deitado no meu leito de morte

Ou depois?

Eu só vou tentando a própria sorte
Que eu não sei se é acaso ou destino
E cruzando o tempo velho
A verdade eu ilumino
Mais bebê fica o meu rosto de menino.